Como se produzem os cremes com células tronco?

Já há alguns anos, a indústria cosmética cita comercializar cremes ou cosméticos com células tronco. Mas será que eles têm células tronco mesmo? De onde elas vêm? São células humanas? Vamos conversar sobre isso nesse artigo.

As células normais de todos os organismos vivos, uma vez formadas e diferenciadas para exercer uma função, só são capazes, quando muito, de formar outras células iguais a elas. Assim, uma célula muscular só pode formar uma célula muscular; uma da pele, só pode formar outra célula cutânea e assim por diante. E essa capacidade de multiplicação tem uma duração bastante limitada.

As células tronco ou steam cells são células especiais porque são consideradas verdadeiras células mãe, ou seja, são capazes de se dividir ou se diferenciar gerando vários tipos de células de linhagens diferentes. E essa capacidade de multiplicação dura muito mais do que as das células comum.  

Podem gerar células multiplicadoras como elas mesmas ou, por exemplo, uma única célula tronco humana pode gerar células musculares, células adiposas, células do sangue, de osso, dos nervos, do dente. Estão presentes em todos os organismos vivos:  animais, humanos, plantas...
Essa capacidade de ser uma repositora de tecidos é de grande interesse médico e atualmente estético.



Como disse, hoje há no mercado cremes que dizem conter células tronco. Será que é verdade?

É preciso esclarecer que não há autorização para a comercialização de cosméticos que tenham no seu interior células tronco humanas. Assim, o primeiro ponto a explicar é que, na verdade, tais produtos contêm extratos vegetais.

O uso de célula tronco humana apesar de parecer tentador, tem vários riscos associados. Qualquer célula de tecido humano, se o doador dessa célula tiver uma doença, na teoria, poderia transformar o produto (creme e afins) como um verdadeiro veículo de contaminação para quem o usa. Assim, ainda estamos longe de ter um cosmético desse tipo.

Os cremes que dizem ter células tronco contêm, na verdade, como seu ingrediente chave um extrato de células tronco de plantas. De um modo geral são de plantas como as berries (framboesas, mirtilos, morango) ou a maçã.

Essas células tronco são retiradas de diversas partes da planta: folha, caule, frutos, raiz...  Mas, a preferência é pelas folhas por serem ricas em   antioxidantes (porque são o local preferencial da fotossíntese).

Essas folhas são lavadas, esterilizadas, cortadas em pequenos pedaços e colocadas em placas de agar, com estimuladores de crescimento. As células tronco formadas nesse processo são retiradas, purificadas e transformadas num pó.

É esse pó que será colocado no seu creme. Esse pó tem células tronco vivas, viáveis? Não. Ele é um extrato, tem as substâncias que estavam dentro das células tronco, como antioxidantes, resveratrol, antocianidinas... Substâncias botânicas que sabidamente diminuem a inflamação na pele, melhoram a capacidade cutânea de regenerar sua barreira e combater os radicais livres, tão implicados no envelhecimento.



Todo esse processo ocorre no laboratório, inclusive as plantas das quais se retiram o extrato são plantas criadas em condições laboratoriais.

Não retiram essas substâncias da natureza porque assim sabem que aquela planta nunca recebeu pesticidas ou contaminantes, nem sofreu com condições climáticas desfavoráveis ou um solo pobre, o que poderia dar um produto antiidade de má qualidade.

Assim, os cremes de célula tronco contém o mais puro extrato botânico, sem células tronco, mas rico em antioxidantes livres de pesticidas e contaminantes.


Dra. Fernanda Herreros
Médica dermatologista e doutorado pela Unicamp.


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